Viver

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Outro dia me perguntaram se viver é estar em relação, e respondi que tudo é relação. Relação não é atributo. Relação é dinâmica, é como o processo quântico. Não existe espaço, não existe vazio, não existe nada que não seja relacional.

 

O ser é a possibilidade de relacionamento. O indivíduo não é um conjunto de instintos, vontades, inteligência e aptidões que está no mundo para explicitá-las, descobri-las ou escondê-las. Nascendo apenas como possibilidade de relacionamento, ele é situado e demarcado por uma estrutura biológica, familiar, social, e é esse contexto que vai estabelecer os processos relacionais. Pensar é prolongar a percepção, perceber é estar em relação, é vivenciar. E viver, portanto, é se relacionar consigo mesmo, com o outro, com o mundo.

 

As possibilidades relacionais são infinitas, mas são também contingenciadas por situações restritivas ou ampliadoras que situam o processo relacional. Analogamente, a possibilidade de se locomover vai depender de como, quando e onde se anda, e nesse sentido, toda descoberta do novo pode ser estabelecida pela descoberta tanto de onde é guardada a comida, quanto de onde se guarda o telescópio que permite ver estrelas. Pensar nessa questão exige inicialmente que se coloque o nível de contingência ou de resultados e o nível de transcendência ou de perguntas e buscas. As linhas podem ser retas, curvas, emaranhadas, quebradas, os processos relacionais são os mesmos enquanto os percebemos independente de seus resultados. Assim como andar não pode ser explicado pela constatação de por onde se vai ou volta - é andar simplesmente - nada é explicado por seus resultados ou funcionalidade. Compreender a vida pelas conquistas ou fracassos não leva à globalização do que é viver, das relações definidoras do estar no mundo.

 

 📕


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Psicoterapeuta - criadora da Psicoterapia Gestaltista, mais informações em seu Site e na Wikipedia (Cf. links). Autora de diversos livros e artigos na área da psicologia.

Comentários

  1. Augusto Freire5 de janeiro de 2025 às 19:08

    Fiquei pensando que enquanto a causalidade é uma forma de interpretar o "como" dos fenômenos se conectam, e explica apenas parte da busca de conhecimento sobre o que vivemos. O relacional surge como essência, imanência do estar no mundo. Reflexão da pessoa sobre o ser.

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    Respostas
    1. Vera Felicidade5 de janeiro de 2025 às 19:33

      Olá Augusto.
      Relembrando: o ser é a possibilidade de relacionamento, donde o dado relacional sempre se impõe. Buscar causalidade é análise classificatória, aristotélica.

      Excluir

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