O medo
Não fazer nada, ficar quieto e calado, não se definir, manter a boca fechada, o olhar parado e os gestos contidos é amordaçamento. É não crescer, não participar e se omitir – é o medo. Essa vivência transforma o indivíduo em um receptáculo, uma coisa que recebe tudo que nele é jogado pelo outro. A continuidade desse processo gera inércia, apatia e submissão. É a subordinação resultante da falta de autonomia, de estar à mercê do que vai ocorrer.
Quanto menos ação ou movimento, menos problemas, mais tranquilidade, e também menos vida. A extinção diária das possibilidades relacionais cria sonâmbulos, mortos vivos considerados pelo outro nas suas necessidades de sobrevivência: casa, abrigo, proteção e alimento. É o sobrevivente restrito ao seu território ou com denodo lutando por ele. O medroso, o omisso age, atua, mas sempre no círculo demarcado de sua segurança e garantia. Ter medo é ter apoio e assim construir fortalezas e diques responsáveis por acúmulos e lutas pelos considerados direitos e vantagens adquiridos. Os grupos são as carapaças, as máscaras etiquetadas dos despersonalizados pela própria omissão. No contexto do medo, fazer parte de qualquer coisa – família, sociedade etc. – é se apoiar, esconder e segurar para conseguir sobreviver. A universidade, a empresa, o sucesso profissional são, assim, excelentes escudos de proteção.
Ter medo, ou seja, ser omisso leva a manter conveniências, acomodações e direitos, assim como faz negar participação, questionamento e legitimidade. O medo nos aniquila, desponta cedo pois desde pequenos somos amordaçados e endereçados a agir convenientemente para nada perder e tudo conseguir; e mais: sempre no caminho considerado bom e de sucesso. Seguimos o caminho da segurança e proteção que nos mantêm comandados pelos temores, prisioneiros do que nos amedronta. Apenas quando o medo é enfrentado, quando, ao invés de nos omitir, participamos, surge mudança, transformação e dinâmica, o que só é possível se acontecer encontro com o outro gerador de questionamento.
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