Olhar de Medusa
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Medusa - anônimo, séc.XVI, Galleria degli Uffizi (domínio público) |
O ódio, a raiva, a revolta de não ser tudo o que gostaria de ser, de não ter o que os outros têm estabelece vivências de inveja. Essa atitude, essa vivência cria inúmeros estereótipos: é frequente desvalorizar o que o outro tem e que ele/a não tem acesso, é também comum roubar o que deseja e considera como direito seu. A inveja é um grande fator de despersonalização, pois o invejoso/a sempre quer ser ou ter o invejado.
Tudo é passível de inveja e pode levar a possuir um séquito de imitadores que procuram estar bem vestidos, bonitos, belas, pois os que cobiçam acreditam que fazendo o que o seu ídolo faz começariam a se assemelhar a eles, que são os que sabem realizar essa façanha de ser o idolatrado. A inveja conduz à ganância, assim como é estruturante de despersonalização resultante da não aceitação de si mesmo.
Querer o mundo do amigo é uma maneira de realizar o desejo de ser amigo do valorizado pela beleza, pela inteligência ou pela riqueza. Olhares de Medusa que petrificam são excelentes símbolos para resumir a inveja. Maldade e agressividades frequentes resultam das fortes motivações invejosas.
Não se aceitar e escolher um padrão, uma pessoa, uma história de vida, um comportamento para imitar e seguir como exemplo é aparentemente atenuador de inveja. É o dito estímulo dignificante, o exemplo a seguir. Acontece que aderências não são estruturantes, são apêndices frágeis e sem bases. Máscaras mal afiveladas, desconectadas de seus suportes que denunciam fraqueza, medo e maldade. Invejar é construir escadas para o desespero, para a maldade. É também usurpar, tentar trazer para si mundos e realidades alheias.
Nas escolas, com crianças e jovens, é muito frequente encontrar invejosos/as. É a cobiça pelas lancheiras e lápis importados, por exemplo. Com o passar do tempo são elaborados mecanismos de disfarce que dificultam o imediato reconhecimento do invejoso, que às vezes até aparecem como bons samaritanos, compreensivos e simpáticos participantes do grupo. A inveja é um índice de depressão, vazio, medo e culpa, pois ao ver o que inveja, percebe o que frustra, o que motiva, enxergando também os quadros, as falhas e o desespero de ser o que se é. Nesse sentido, avaliar as motivações é sempre esclarecedor de problemáticas fragmentadas, ocultadas e edulcoradas.
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Ih, Vera, não tenho ciência de ter sentido uma inveja desse tipo, a não ser de uma mulher que idealizei na minha cabeça; aquela que teve todas as condições, oportunidades, de certa maneira, sensibilidade, que tinha a obrigação de fazer uso disso e fez. Há homens e mulheres que admiro muito, mas que não invejo. Pelo contrário, sãos responsáveis pelos meus raros "momentos felizes". (nas artes, no dia-a-dia na rua...) Se não fossem esses momentos... sei não... bjs
ResponderExcluirObrigada pelo comentário.
ExcluirNo livro desespero e maldade você já descreve a inveja. Que é um sentimento falado mas não realmente explicado nem descrito com a clareza que você descreve. Em termos de figura e fundo ela Parece ser o fundo não percebido raramente se vê alguém se confessando invejoso diferente do orgulhoso ou ciumento. O desejo do que não se pode ter, pode estruturar maldade, desrespeito, covardia, Schadenfreude. O budismo diz que o desejo é uma das Fontes de sofrimento.
ResponderExcluirObrigada pelo comentário, Augusto!
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