Viabilizar

 

 

 

Fazer parte, propiciar, estar junto é o que permite viabilizar. Essa atitude pode ter objetivos bons ou ruins. Pode-se viabilizar bondade, pode-se viabilizar maldade.

 

O fazer parte, o estar junto deve sempre ser questionado. Do que se faz parte? Qual o objetivo básico deste grupo? Mesmo em família essas questões são fundamentais. Fazer qualquer coisa para garantir o lugar de classe do opressor ou do oprimido, por exemplo, são atitudes discutíveis. Dividir grupos, almejar resultados são ações péssimas enquanto conveniência. Da mesma forma, manter privilégios, respaldando-os, mantém, ao mesmo tempo, inferioridade, pois elas são demarcadas ao estabelecer grupos. E por fim, apaziguar é estabelecer e facilitar manipulação.

 

Individualidades desaparecem nos aspectos que as representam: dinheiro, conhecimento, traços físicos. É assim que são criadas minorias e maiorias. Os discriminadores e os discriminados. O poder para discriminar está sempre na mão da minoria, consequentemente dos poderosos. Os discriminadores, os poderosos que ditam as regras, e os provenientes de outras etnias como os escravizados antigos por exemplo, ou os escravizados atuais, que são os egressos do sudeste asiático, são, em última análise, os que são chamados de fracassados, por não existir nada que os proteja e sustente. Uma cidade de maior desenvolvimento econômico pode determinar o que ela quer ou o que ela não quer, pois tem o sustentáculo dos grupos que a sustentam.

 

Viabilização pode ser uma atitude válida quando desenvolve apoios e resgata ilhas de poder, quando liberta ilhas de medo e subjugação. Viabilizar é alertar para mudanças, para que não haja ancoragem de direitos/deveres, para que tudo seja possibilitado aos indivíduos, quer na família, na escola ou na sociedade. Viabilizar, portanto, é participar do medo, da dor, da opressão, do desespero que destrói processos relacionais, possibilidades humanas. É lugar comum afirmar que por meio de leis e políticas sociais isso pode mudar. Sabemos que não é assim, pois leis e políticas estão comprometidas com contextos que delas se valem para realizar encaminhamento dos próprios interesses.

 

O indivíduo, ao aceitar seus limites, e deles não sair por meio de falsas posições religiosas, políticas ou sociais, será capaz de estruturar uma nova realidade na qual o que existe, existe enquanto presença, sem ânsia de melhora e reconhecimento, sendo assim, sem possibilidade de manipulação e cooptação. É quase que “comendo o pão que o diabo amaçou” se cria condições para apreciar o néctar dos deuses. Isso não é a ideia de que o sofrimento viabiliza a alegria. A ideia é que o limite aceito cria antíteses que provocam mudança.

 

📕


Meus livros mais recentes

- "Emparedados pelo vazio - Bem-estar e mal-estar contemporâneos", Vera Felicidade de Almeida Campos, Editora Labrador, São Paulo, 2025


📌 À venda em várias livrarias, para compra na Amazon, aqui 

📌 Para compra no Site da Editora Labrador, clique aqui

 



- "Autismo em Perspectiva na Psicoterapia Gestaltista", Vera Felicidade de Almeida Campos, Editora Ideias & Letras, São Paulo, 2024

📌 À venda em várias livrarias, para compra na Amazon, aqui 

📌 Para compra no Site da Editora Ideias & Letras, clique aqui

 




 


Comentários

Os mais lidos

Polarização e Asno de Buridan

Oprimidos e submissos

Sonho e mentiras

Formação de identidade

Zeitgeist ou espírito da época

Mistério e obviedade

Misantropo

Percepção de si e do outro

A ignorância é um sistema

“É milagre ou ciência?”