Atitude
A psicologia do sec. XIX costumava dividir o homem em intelecto, atividade e vontade (emoção). Atividade se referia a gestos, comportamento motor, significando atitudes.
Hoje em dia atitude é um comportamento que frequentemente se exerce, expressando a própria estrutura individual, psicológica, daí ela caracterizar a visão que se tem do mundo, de si mesmo e do outro.
Em Psicoterapia Gestaltista, atitude é sinônimo de motivação; para nós também a motivação está sempre no contexto relacional; a motivação não é criada, construida "interiormente" e projetada "exteriormente" como pensam os psicanalistas, os terapeutas da gestalt therapy e outros.
Os gestaltistas, ao discutirem com os behavioristas, argumentavam que se aprendia independente das necessidades (drives) estarem ou não saciadas. O requiredness, o carater de demanda explicado por Koffka, mostra como o ambiente, a realidade, cria a motivação (os publicitários bem sabem disto).
Perceber estas demandas, estas motivações é agir estruturando atitudes. O contexto do percebido aqui e agora pode estar estruturado em passado (memória), em futuro, como metas ou perspectivas (pelos prolongamentos do percebido, pensamento) ou pode estar estruturado no próprio presente. Sempre que se percebe o que ocorre no contexto do que está ocorrendo, se é instantâneo, espontâneo, globalizando o que está ocorrendo. A atitude que surge é quase que descritiva, totalizante do percebido. Há liberdade, por exemplo.
Quando o que ocorre é percebido no contexto anterior - presentificado pela memória - a possibilidade de distorção é grande e atitudes preconceituosas, conservadoras, repetitivas de vivências anteriores, são típicas.
Quando o que ocorre é percebido em função de metas, de perspectivas (futuro), estrutura-se atitude de observar, aguardar, avaliar, recolher informação, dados. É o aproveitamento da experiência presente, do que se está vivenciando no presente, transformando este presente em uma parte, um instrumento, uma ajuda para o que se quer realizar ou evitar.
Com estes exemplos não estou tipificando a forma de agir do ser humano, apenas delineando posicionamentos, relacionamentos esclarecedores do que se percebe, do que frequentemente se faz com o percebido.
Cotidianamente ouvimos falar de pessoas impulsivas, pessoas cautelosas ou desligadas, quase como sinônimo de personalidade, característica típica destas pessoas. São as manutenções de atitudes que configuram estes perfis. Quanto maior o nível de posicionamento, maior a possibilidade de ser manipulado, maior o ajuste e a dificuldade de perceber o outro, a dinâmica do mundo e a ultrapassagem do instante.
Questões tais como permanência, impermanência, aceitação de perdas, de ser abandonado, de morrer, podem ser trabalhadas, percebidas quando são colocadas no contexto de estruturação das atitudes individuais. As percepções mudam o mundo, o mundo muda as percepções. Perceber que a grande perda é uma grande mudança que traz liberdade é uma percepção restauradora, cria atitude otimista, traz motivação. Perceber que tudo que se faz é ancorado nos desejos de vencer e ter sucesso, estabelece atitudes solitárias, pessimistas e avaliadoras.
"Mudança e Psicoterapia Gestaltista", Vera Felicidade de A. Campos
"Nebraska Symposium on Motivation"
verafelicidade@gmail.com
Vera,
ResponderExcluirComo sempre lúcida e coerente. O entendimento da atitude de acordo com a percepçao do que ocorre no contexto passando, futuro ou presente é genial!
A percepção do que ocorre no contexto do presente gera atitude de disponibilidade, de pecepção do novo, são aqueles momentos mágicos em que não fazemos conta, vivemos e pronto. Sinto isso mas são ainda momentos muito fugazes.
Esse tema é muito instigante. Espero ansiosa para ler seu próximo livro, que deve esclarecer como a linguagem se dá nesses contextos.
Bjs,
Ioná
Ioná, obrigada. O importante é conseguir continuidade, para isso o questionamento gera transformações; quando não há questionamento, o que existe são fagmentações que às vezes geram atitudes vistas como positivas, boas, outras como negativas, ruins. Os valores imperam, as divisões também, consequentemente distorções perceptivas: neuroses.
ResponderExcluirBeijos
Vera,
ResponderExcluirMuito se fala e idolatra sobre "pessoas de atitudes",não importando o que isso represente ou como isso acontece.Ler seu texto, é mais uma possibilidade de refletir sobre as atitudes em geral e mais especificamente sobre as minhas,frente aos questionamentos recebidos,sobre as "trajetória" seguidas, sobre o nível de posicionamento e consequente "...dificuldade de perceber o outro, a dinâmica do mundo e a ultrapassagem do instante..."
A criação deste blog, permitindo o acesso fácil e imediato a sua genialidade, foi o melhor de 2012!!bjos Ana Cristina
Olá Vera, gostei muito deste tema, sempre achei que atitude é uma palavra usada, no senso comum, com tantos significados diferentes, ora como opinião ou princípio geral (como em frases do tipo "qual a sua atitude com relação a questão racial?"), ora como ação (como em "que atitude fulano teve diante da situação X"?) e hoje em dia como estilo, maneira de ser ("fulano tem atitude"). Procurando um ponto em comum entre as várias abordagens me parecia que atitude era a convergência de opinião-ação (algo como ter uma opinião e agir de acordo) mas isso também ficava confuso porque muitas vezes temos uma opinião geral sobre algo, mas não nos comportamos de acordo com isto (são vários os exemplos de pessoas com discursos contra o preconceito "racial", por exemplo, e ações especificas preconceituosas: "não tenho nada contra os judeus, mas não casaria com uma judia" etc). Enfim, quando você diz que "atitude é sinônimo de motivação", que está "no contexto relacional", quando fala do "carater de demanda do ambiente" é muito interessante, tanto porque "limpa" o conceito, quanto porque retira dele a rigidez de algo preconcebido.
ResponderExcluirAbraço
Ana Cristina, obrigada pelos seus comentários. São muito elucidativos acerca de alguns aspectos do comportamento humano; interessante você perceber que a dificuldade de vivenciar a dinâmica, decorre do posicionamento. Tudo de bom para você em 2012.
ResponderExcluirBeijos
Ana, a diferenciação semântica que você fez sobre a palavra atitude trouxe uma série de questões interessantes: o preconceito, aversões, fingimentos, estratégias "politicamente corretas". Obrigada por comentar. 2012 cheio de alegrias e leituras... rsrsrs.
ResponderExcluirAbraço
Obrigada Vera, um maravilhoso 2012 para você também. Com certeza será um ano de leituras, principalmente dos seus artigos aqui... rs!
ResponderExcluirAbraço
"Perceber que a grande perda é uma grande mudança que traz liberdade é uma percepção restauradora, cria atitude otimista, traz motivação. Perceber que tudo que se faz é ancorado nos desejos de vencer e ter sucesso, estabelece atitudes solitárias, pessimistas e avaliadoras."
ResponderExcluirImpressionante como duas frases podem sintetizar tanto e trazer questionamentos fundamentais. Obrigada, Vera. O artigo está maravilhoso e esclarecedor, como sempre. Este, em especial, está 'motivador', rs.
beijos.
Obrigada Clarissa, as frases que você citou resumem realmente muitas motivações e problemáticas do humano. Boa apreensão você teve.
ResponderExcluirFeliz ano novo e tudo de bom.
Beijos
Feliz ano novo, Vera! Beijos!
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