Unificação

 

 

Unificação é a hercúlea tarefa atual do ser humano. Questionar posicionamentos, destruir preconceitos, redescobrir possibilidades e limitações, revitalizar processos destruidores é o que se coloca quando se busca humanização.

 

O outro, ao ser aceito como ele é, independente do que possa oferecer de bom ou de mal, é aceito como ser humano. Frequentemente esse processo de aceitação do outro é interrompido pelos esgares de raiva, medo, onipotência, submissão e inveja, e, assim, o outro está despersonalizado, coisificado. Nesse momento, a depender dos contextos relacionais nos quais ocorrem o relacionamento, as coisas podem mudar em função dos questionamentos que se faça. Para isso é necessário que não se use o outro para os próprios objetivos e desejos. Caso isso ocorra, é aumentada as fileiras dos despersonalizados e despersonalizadores. Enfim, é pelo relacionamento que podem ocorrer mudanças ao configurar as próprias impossibilidades ou possibilidades de outro modo.

 

No nível psicoterápico, tudo é mais fácil, desde que a psicoterapia dispõe de um arsenal de atitudes e questionamentos possibilitadores de mudança. Fora do contexto psicoterápico, o contato com o outro exige constante questionamento para que se perceba se o que está diante de si é percebido como outra pessoa ou é percebido como algo, como alguém que vai satisfazer necessidades, que vai ser utilizado para realizar desejos, ou ainda, que vai ser valorizado e aceito em função do que possibilita ou permita de mudança ou manutenção.

 

Transcender conveniências, ultrapassar limites, se questionar são sempre necessários para perceber o que está diante de si: o outro – e assim aceita-lo ou rejeitá-lo. Essa atitude é impossível se houver divisão, metas e comprometimentos, desde que essas motivações contingenciam, dividem o que está diante em bom, útil, ruim, inútil, seja pelas apreensões estéticas e sociais, seja pelos resumos de conveniências e inconveniências.

 

 


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Comentários

  1. Esse texto parece oferecer uma solução ao problema levantado anteriormente: a verdadeira humanização ocorre através da aceitação incondicional do outro e da superação das divisões impostas pelo sistema social e pessoal. Isso implica uma transformação profunda nas relações humanas, onde o outro é visto como um fim em si mesmo, e não como um meio para a realização de desejos ou manutenção de status.
    Essa unificação, requer um esforço contínuo para questionar e reavaliar as próprias motivações, transcendendo os limites impostos pelas convenções sociais, código moral e ético, e pelas percepções fragmentadas que desumanizam. Em essência, o texto propõe uma forma de resistência à despersonalização através da prática da aceitação e da autenticidade nas relações humanas. Uma reflexão profunda e bela, obrigado Vera!

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    Respostas
    1. Obrigada, Augusto, pelo comentário.
      A aceitação de si e do outro não depende de esforços, é um processo instantâneo quando não há obstáculos, nem desvios em função de outros referenciais.

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